Esta semana aconselhamos a leitura do livro de Luis Sepúlveda:
"HISTÓRIA DE UMA GAIVOTA E DO GATO QUE A ENSINOU A VOAR"
Esta história começa com um bando de gaivotas que iam a planar sobre o oceano, com seis horas de voo sem interrupções, e a gaivota de vigia anunciou “Banco de Arenques a bombordo”, nada melhor para recuperar forças.
Seguindo as instruções da gaivota piloto, o bando tomou uma corrente de ar frio e lançou-se em voo picando sobre o cardume de arenques, perfuravam a água como setas e, ao regressar à superfície, cada gaivota segurava um arenque no bico, saborosos e gordos, era mesmo o que precisavam para recuperar energias antes de continuar o voo.
Kengah, uma gaivota de penas cor de prata, mergulhou a cabeça para agarrar o quarto arenque e, por isso, não ouviu o grasnido de alarme que estremeceu o ar a anunciar perigo a estibordo, descolagem de emergência. Quando tirou a cabeça da água viu-se sozinha na imensidade do oceano, estendeu as asas para levantar voo, mas a espessa onda foi mais rápida e cobriu-a inteiramente. A mancha viscosa de petróleo colava-lhe as asas ao corpo, e, por isso, começou a mexer as patas na esperança de nadar rapidamente e sair do centro da maré negra, por fim chegou ao limite da mancha de petróleo e ao fresco contacto com a água limpa. A gaivota fez várias tentativas para sobreviver e, à quinta tentativa, conseguiu levantar voo. Kengah compreendeu que as forças não lhe iam durar muito e procurou um lugar para descer. As asas negaram-se a continuar o voo, e a gaivota caiu em grande velocidade na varanda do gato grande, preto e gordo o ”Zorbas”, que estava sozinho em casa, pois o seu dono tinha ido passar férias deixando um amigo a tomar conta do seu gato. Zorbas aproximou-se da gaivota e esta tentou pôr-se de pé, arrastando as asas, trocaram algumas palavras e a gaivota contou o que se passou, dizendo-lhe que ia morrer.
O gato queria ajudar mas não sabia como, foi então que ele disse que iria pedir ajuda, ele preparava-se para trepar o telhado quando ouviu a gaivota a chamá-lo, ele voltou para trás e ela comunicou-lhe que iria por um ovo com as forças que lhe restavam. Então ela pediu-lhe que lhe fizesse três promessas. O gato, pensando que ela estava a delirar, prometeu-lhe o que ela quisesse. Essas promessas eram não comer o ovo, cuidar dele até à nascença da sua cria e ensiná-la a voar.
O gato prometeu-lhe tudo e disse-lhe para ela descansar, que ia buscar auxilio.
A gaivota olhou para o céu, agradeceu a todos os bons ventos, deu o seu último suspiro e pôs um ovito branco com pintas azuis, que rolou junto ao seu corpo impregnado de petróleo.
O Zorbas foi pedir ajuda aos seus amigos, Secretário, Sabetudo e Colonello, quando os quatro gatos chegaram à varanda, imediatamente compreenderam que chegaram tarde, ao arredarem a gaivota viram o ovo. Então Zorbas ficou surpreendido por ela ter posto o ovo mas, conforme ele tinha prometido, começou a sua promessa puxando o ovo para junto da barriga, para ser aquecido pelos raios solares.
À luz da lua, os quatro gatos cavaram um buraco e enterraram a gaivota.
Sendo Zorbas um gato fiel à sua palavra, ele fez todos os esforços para cumprir as suas promessas. Até a gaivota nascer, ele viu-se na tarefa de chocar o ovo, desta forma, quando a pequena gaivota nasceu, ela chamou-lhe mãe, nesse momento ele pediu ajuda aos seus amigos, que o vão ajudar a cuidar da pequena Ditosa, assim a chamaram, e ajudá-lo nesta difícil tarefa.
Os seus amigos eram Collonelo, um gato de alguma idade pronto a dar um bom conselho, Secretário, o seu ajudante, o Sabetudo, um gato muito inteligente e o Barlavento, um gato marinheiro.
Todos juntos, com boa vontade, tentaram cumprir esta promessa a todo custo, começaram então essa difícil tarefa de dar à gaivota lições de sobrevivência e ensiná-la a voar.
Ditosa integra-se tão bem no grupo, que começa a achar que é um gato e quer ficar com eles, fazendo com que os esforços dos seus amigos fossem em vão.
Os gatos acabaram por pedir ajuda a um humano, Zorbas contou-lhe a história da Ditosa e pediu-lhe ajuda para a pôr a Voar, este concordou em ajudar naquela mesma noite, pois estava uma noite muito propícia para as gaivotas voarem. Ficou combinado reunirem-se à meia-noite, em frente da porta do bazar, então Zorbas foi avisar os amigos.
O homem de gabardine, chegando ao local, agarrou-os aos dois ao colo e colocou-os debaixo da gabardine, levando-os para um edifício alto - a torre de São Miguel.
Subiram as escadas e a gaivota começou a ficar com medo, mas Zorbas encorajava-a. Chegando lá cima, o humano colocou a gaivota nas mãos, e ela disse ao gato que não tinha medo, dando bicadas na mão do humano. Então ela estendeu as suas assas, dizendo palavras de afecto ao gato e sentindo a chuva cair-lhe em cima agradavelmente.
Então Ditosa desapareceu da sua vista, e o gato e o humano temeram o pior, foi então que a viram, batendo asas, sobrevoando o parque de estacionamento e, afastando-se, gritou que estava a voar. Então o gato suspirou de alívio por ter conseguido e compreendeu que o mais importante é atrever-se a voar.
Depois disto, o humano achou por bem deixar o gato um pouco sozinho, e Zorbas permaneceu ali a contemplá-la, sem se saber se as gotas que escorriam dos seus olhos eram da chuva ou lágrimas.